sábado, 6 de setembro de 2014

O tempo, o sol e o vento.

Faz calor aqui dentro. A ironia é que o tempo lá fora nunca esteve tão frio. Através dos reflexos embaçados da janela, vejo pessoas, e até mesmo coisas tão gélidas como a brisa matinal. Durante algum tempo, também fui assim. Tempestuoso, imprevisível que nem o vento. Que é frio. Carregado. No ritmo de um assobio cansado.
A grande diferença, é que o vento carrega tudo consigo. Mágoas, angústias e até mesmo coisas boas. Eu os detinha, era uma barreira que impedia quaisquer sentimentos seguirem seu caminho. Sobretudo os ruins.
A visão literal sempre fez mais sentido para mim, no entanto, tudo fica mais bonito quando há uma pitada de metáfora na história, dá um gosto agridoce ao sofrimento, o qual, felizmente já não existe mais. Derrubei as barreiras e deixei as coisas seguirem seu curso natural. De vento, fui promovido a sol, e o calor que há em mim derrete todo e qualquer tipo de ressentimento que possa restar aqui.
É confortável estar aquecido, enquanto muitos enfrentam sua pior nevasca interna. Eu, antes tão comum, cabisbaixo e sorrateiro, hoje tenho um diferencial. A felicidade que me consome. Por um tempo, será bom ter toda essa energia só para mim. Não é egoísmo, eu prefiro chamar de amor próprio.
A chuva começou a cair. Pessoas corriam e procuravam abrigo, gotas de chuva apostavam corrida na vidraça da lanchonete. Mais adiante, o mar se escondia por detrás da neblina.
Um garçom rechonchudo, com barba por fazer e olhos de ressaca aproximou-se.
 – Gostaria de alguma bebida para se aquecer, meu jovem? Café é um ótimo companheiro do frio.
Semicerrei os olhos e sorri.
 – O tempo nunca esteve melhor, e não me refiro à chuva lá fora. Um copo de água com gelo, por favor.


De Miranda, para meu querido amigo à distância Alecs.

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