Faz calor aqui dentro. A ironia é que o tempo lá fora nunca
esteve tão frio. Através dos reflexos embaçados da janela, vejo pessoas, e até
mesmo coisas tão gélidas como a brisa matinal. Durante algum tempo, também fui
assim. Tempestuoso, imprevisível que nem o vento. Que é frio. Carregado. No
ritmo de um assobio cansado.
A grande diferença, é que o vento carrega tudo consigo.
Mágoas, angústias e até mesmo coisas boas. Eu os detinha, era uma barreira que
impedia quaisquer sentimentos seguirem seu caminho. Sobretudo os ruins.
A visão literal sempre fez mais sentido para mim, no
entanto, tudo fica mais bonito quando há uma pitada de metáfora na história, dá
um gosto agridoce ao sofrimento, o qual, felizmente já não existe mais.
Derrubei as barreiras e deixei as coisas seguirem seu curso natural. De vento,
fui promovido a sol, e o calor que há em mim derrete todo e qualquer tipo de
ressentimento que possa restar aqui.
É confortável estar aquecido, enquanto muitos enfrentam sua
pior nevasca interna. Eu, antes tão comum, cabisbaixo e sorrateiro, hoje tenho
um diferencial. A felicidade que me consome. Por um tempo, será bom ter toda
essa energia só para mim. Não é egoísmo, eu prefiro chamar de amor próprio.
A chuva começou a cair. Pessoas corriam e procuravam abrigo,
gotas de chuva apostavam corrida na vidraça da lanchonete. Mais adiante, o mar
se escondia por detrás da neblina.
Um garçom rechonchudo, com barba por fazer e olhos de
ressaca aproximou-se.
– Gostaria de alguma
bebida para se aquecer, meu jovem? Café é um ótimo companheiro do frio.
Semicerrei os olhos e sorri.
– O tempo nunca esteve
melhor, e não me refiro à chuva lá fora. Um copo de água com gelo, por favor.
De Miranda, para meu querido amigo à distância Alecs.
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