segunda-feira, 12 de maio de 2014

To Dream

⁠⁠⁠A brisa noturna faz a cortina de meu quarto dançar. O coração palpita, eu suspiro. Uma sinfonia perfeita. Eu, a brisa e você. Nossa música, e sei que de algum lugar pode ouvi-la tocar. A propósito, sei de muitas coisas a seu respeito. Como por exemplo, se soubesse que estou com frio nesse momento cederia sua blusa. Assim como fará quando nos conhecermos naquele barzinho que a galera se reúne as sextas, ao som de Nirvana. Em uma noite úmida quando eu, desastrada toda vida esbarrar em um garçom que derrubará cerveja em mim. Meus óculos tortos, e a blusa ensopada o irão fazer gargalhar.
É tão gostoso ouvir seu riso da minha varanda, bebendo chá. E se você estivesse aqui, faria uma careta, daria as costas e iria tomar uma xícara de café bem forte. Claro, você detesta chá, como diz, prefere a cafeína correndo nas veias, dando-lhe energia. Fazendo de seu riso prazeroso ainda mais forte.
Suas tentativas de me beijar com bafo de café são pura provocação, mas eu sempre vou me distrair e você aproveitará para me roubar um beijo. Roubará meu coração, meus beijos e o lado vazio da minha cama. E eu? Serei ladra de quê? Das suas blusas, dos seus sorrisos e olhares.
Nas manhãs de domingo, me acordará às seis da manhã com um bom dia prolongado, só porque sabe que odeio acordar cedo. E quando eu for para a cozinha comer, meu chá estará pronto, e um belo pedaço de bolo de chocolate para acompanhar. Você me conhece melhor do que a mim mesma, e saberá que nada como comida para curar meu mau humor dominical, e principalmente, matinal.
Durante algum tempo será somente nós dois. Eu cuidando das flores enquanto você lava o carro e com um sorriso malicioso lança um jato de água em minha direção. Sim, isso vai me irritar muito, e você irá me beijar, e esquecendo-se do carro, da água, das flores, iremos para o quarto e lá, provaremos nosso amor mais fugaz. Sem palavras. Só suspiros.
Teremos três filhos e nenhum cachorro. Você não gosta, embora eu queira e insista muito.
Faremos viagens em família, ao som de rock ou reggae, tanto faz, nisso concordamos. Você fará o volante de bateria e as crianças cantarão, enquanto eu olho para o céu, mais limpo do que nunca, com o brilho do sorriso perdendo somente para o Sol.
E aí, vamos envelhecer. Eu ficarei com rugas, e você calvo. As crianças crescerão, seguirão suas vidas e a casa voltará a ser nossa. Apenas com o barulho da chaleira e do rádio ao lado de sua poltrona, enquanto lê o jornal.
Eu passarei a beber café, e você começará a apreciar o chá. Mas hoje, prefiro devanear com minha natureba. Eu queria sua blusa, ou melhor, seu abraço. Faz frio aqui fora. Está na hora de entrar. Um aroma invade o quarto e sei que lá em baixo, você toma café. Desço sorrateira, beijo sua careca e sorrio enrugada. Estendo minha xícara e você logo entende e faz o mesmo. Um brinde!
Abraçados subimos, e seus braços esquentam da mesma forma que sua blusa me esquentou naquela noite úmida, enquanto eu fedia a cerveja. Está tudo no seu devido lugar. Eu dentro do seu abraço, você no lado que já não é mais vazio na minha cama.
– Só para você saber, continuo odiando aquela natureba que você chama de chá.
Eu sorrio, e tenho certeza de que você ouviu minha conversa com o vento. A maravilha de ter te conhecido é que vez ou outra, para fugir da rotina nossas almas se encontram para devanear.

domingo, 11 de maio de 2014

Olhos de Águia

Há quem diga que os olhos são a porta da alma, nada escondem, nada disfarçam e dizem o que a boca prefere calar. Antes de tudo, esclareço uma coisa. Não estou generalizando, afinal, somente um dentre tantos olhares me encanta, faz-me perder os sentidos, me hipnotiza. Há quanto tempo mesmo? Três anos.
É. Realmente, uma hipnose que só os melhores conseguem fazer. Sinceramente, você não é o melhor, tampouco alguém que eu me orgulharia ao apresentar para meus pais e amigos. Mas, automaticamente você já se apresentou à minha vida, puxou uma cadeira e sentou-se para ver minha regressão. Esse olhar desperta o melhor e o pior de mim. Desperta meus instintos mais ardentes, fumegantes como uma chama, que se fragiliza até apagar quando uma lágrima corre em meu rosto.
Ameaçador, com um toque de malícia e desejo. Basta! É o necessário para eu me render, sem ao menos uma palavra ser pronunciada. Já não é mais preciso um “eu te amo”, na verdade, nunca precisou. Me ter torna-se tão fácil como respirar.
Seu instinto de caçador fere meu coração, a única presa que (in)felizmente não é seu alvo mais. Seus olhos de águia esverdeados já não provocam o mesmo efeito, pois esperança tornou-se apenas uma palavra cuja cor representativa é verde. Sem mais comparações ao seu olhar. Aqui jaz o amor, enquanto minha felicidade padece.
Não é posse. Deixou de ser amor. A saudade? Sempre me acompanha. Então, o que me acorrenta a seu destino, tira meu sono, faz-me sua prisioneira? Já sei. Seu olhar... Mas, vai além.
Nem em sonhos você imagina que fui predestinada a saber de seus dias, sentir suas dores, de ver seu semblante indiscretamente rondando minha mente e dizendo “Ajuda-me!”.
Temo que seja assim para sempre. E que não importa o quanto eu fuja, seu olhar de águia sempre me alcance a quilômetros de distância. Temo continuar vidrada, navegando, sem me dar conta de que até mesmo no raso posso afundar.

Mas, meu maior medo é que essa hipnose sugue meus dias, minha felicidade, o resto de tempo que mereço por direito. Suplico apenas que tenha dó de mim, das lágrimas e sorrisos que perdi, do tempo que nunca mais voltará a correr. Peça socorro, faça sinal de fumaça, estale os dedos, mas por favor, não olhe para mim.