domingo, 23 de junho de 2013

Boundless love...

“E aí namorada?” Ouvi o eco de sua voz da cozinha e me encaminhei até a varanda a fim de vê-lo. Ele era radiante, e seus olhos verdes davam um enorme contraste devido ao sol. Aproximei-me e o fitei debruçado no portão, ao me ver ele soltou uma gargalhada contagiante que me fez rir, sem ao menos saber o motivo. Éramos assim, feito idiotas e apesar de termos uma diferença enorme de idade, agíamos como se tivéssemos a mesma idade. Ríamos de tudo e por tudo.
Ele era meu irmão mais velho, meu protetor, não era de sangue, mas cuidava de mim como se fosse sua caçulinha. Como de costume, ele me colocava em seus ombros e ia passear comigo. Eu me sentia imbatível lá de cima, naqueles ombros fortes e a brisa em meu rosto jogando meus cabelos para trás. A tarde sempre era divertida quando estávamos juntos, a gente tomava sorvete e ele me levou para o campo de futebol, apesar de ele me deixar fazer gols rolávamos na grama de tanto rir com meu desempenho desengonçado durante o jogo. Logo após uma tarde divertida, voltamos para casa suados e rindo quando vimos minha mãe no portão com o peso sobre uma perna com um olhar impaciente. Ele pigarreou e disse: “Desculpe sairmos sem ter avisado” “Entre Alana” mal olhou para nós e estava com um ar de desprezo, nem sequer respondeu-o e entrou batendo a porta com toda a força que pôde. O fato é que ela não gostava que eu e Antônio conversássemos. Ela carregava consigo aquele pensamento antigo de que ele me faria mal por ser tão mais velho já que eu não passava de uma criança.
Mesmo sendo tão jovem e imatura, tinha a ciência de que conversar com ele era vital para meu bem estar, afinal, ele me dava todo o carinho que eu não recebia de minha família e eu buscava nele o consolo. Meu riso nunca foi tão sincero com outra pessoa quanto era com ele, meus pais nunca entenderiam que o amor e o carinho são essenciais para qualquer um, e ele sempre foi o único que me proporcionava e me mostrava tal sentimento.
Fui direto para o chuveiro e depois de tomar banho vi meus pais em meu quarto. “Precisamos conversar mocinha” disse meu pai com uma voz rouca e levemente irritada. “Podem falar.” “Eu e sua mãe decidimos que você não verá mais o Antônio” “Mas por quê?” “Ele pode fazer uma maldade com você, pois é tão inocente” “Maldade é o que vocês fazem comigo, como podem querer me afastar de alguém que me faz feliz?” “Sem mais argumentações, está decidido”.
Não consegui me conter, chorava incessantemente não era justo perdê-lo, ele nunca teria coragem de fazer nada contra mim, e por esse motivo não iria abrir mão de meu irmão, jamais permitiria que nos separasse.
Preferi não dizer nada para ele, o medo de ele resolver acatar as ordens de meus pais era muito grande. Todas as tardes, assim que chegava da escola ficava sozinha em casa e decidi ter mais zelo para que não soubessem que continuava mantendo contato com ele. Antônio estava de férias do trabalho e me prometeu passar todas as tardes comigo e eu não iria deixar essa promessa ser quebrada. Éramos vizinhos de parede e a janela de nossos quartos coincidentemente ficavam de frente para a outra. Fazíamos caretas e eu ria até a barriga doer. “Namorada, aceita se casar comigo?” Ele gritou do outro lado da janela. “Só se você tocar violão para mim”. De repente ele saiu da janela e quando menos esperava lá estava ele na minha sala tocando violão para mim. Aquela tarde não poderia ser melhor, ele me contou piadas, comemos brigadeiro e cantamos juntos. Eu era extremamente feliz por tê-lo do meu lado, era o meu anjo, o melhor amigo que alguém pudesse ter. Eu dormi solenemente em seu colo e acordei com gritos, ainda atônita reconheci a voz de meu pai e quando abri os olhos o vi para cima de meu amigo, ambos estavam exaltados e meu pai ameaçava o denunciar. Dei um grito e seus olhares se voltaram para mim. “Ele é meu amigo pai, não faça isso” “Ele é um pedófilo, isso que ele é! Irei te matar” “Senhor, não fiz nada com sua filha, sou somente um amigo” “amigo uma ova” E deu-lhe um soco que o tonteou. Como era do feitio de Antônio, não o agrediu, somente saiu com as mãos na face dolorida e se retirou para sua casa.
Era noite de lua cheia e todas as noites ficávamos olhando para o céu de nossas janelas até tarde. Essa noite entretanto fora diferente, sua janela estava fechada e ele não me chamou. Chorei e não consegui dormir a noite inteira. No dia seguinte, sentei no portão de casa para vê-lo e ele não passou. No outro dia ele passou por mim, mas não disse nada, isso doeu muito não queria que as coisas seguissem por esse rumo. O que antes era hábito se tornou saudade e o que me restava era lembrar dos momentos divertidos.
Até que um dia, sua janela estava aberta e ele estava lá, mas não com o sorriso que eu tanto amava e sim com os lindos olhos verdes marejados, ele chorava e sem pensar duas vezes estiquei minha mão em sua direção e felizmente ele correspondeu meu ato. Era isso que fazíamos quando estávamos tristes e não podíamos nos abraçar. Instintivamente chorei, como se aquela dor também me atingisse, no fundo sabíamos exatamente o motivo das lágrimas e então ele disse em meio a soluços: “Sinto sua falta namorada” “Também sinto sua falta irmão”. Saímos e ficamos em frente ao meu portão. Pulei no seu colo e disse: “Promete nunca mais me abandonar?” “Prometo minha caçula”.
Sua promessa jamais seria cumprida...
Na noite seguinte ele iria viajar e então veio se despedir de mim. Seria diferente se eu soubesse que aquela seria a última vez? Se eu soubesse que nunca mais veria aqueles lindos olhos verdes abertos novamente, se eu soubesse que seria o último abraço e a última vez que ouvi seu riso contagiante? Jamais obteria tais respostas, pois naquela noite enquanto viajava sua vida fora tomada bruscamente, ele se foi e levou com ele meu mais sincero sorriso.
Mal pude crer quando soube, ele jamais voltaria e o que me doeu foi vê-lo mudo e gélido em seu caixão, e o pior foi presenciar a cena em que seu caixão fora depositado em um buraco escuro e coberto por terra. Por Deus, minha vontade era me jogar junto com ele. Meu irmão, meu grandão tinha ido embora e seu sorriso jamais seria visto.
Nos dias que se seguiram, julguei a Deus por ter tirado de mim alguém que eu tanto amava alguém tão jovem e cheio de vida. Minhas tardes passaram a ser monótonas e tristes, faltava algo para me preencher, faltava meu irmão. Mas eu sei que um dia ele irá voltar para mim, eu sei que mesmo não o vendo ele cuida de mim, lá de cima, por que sei que seu lugar é no céu.
 Sem ele, fui criando uma vida de fachada. Enquanto todos me achavam feliz por estar sempre com meu sorriso escancarado, por dentro me sentia vazia, uma amargura por não ter atenção nenhuma de meus pais e por não ter ninguém para suprir o que eu mais necessitava: Amor.
O tempo fora passando lentamente e a ferida fora se cicatrizando aos poucos, nunca seria esquecida, mas eu já havia me conformado com aquela situação. Eu cresci, estava mais responsável e ainda sim aquele vazio teimava em permanecer comigo. Eu precisava de alguém para cuidar de mim, havia cansado de passar 5 anos de minha vida de aparências, de sorrisos que não eram meus, de uma vida que não era perfeita. Então o conheci, João era cativante e começamos a nos envolver. Com o tempo passei a sentir algo especial por ele e aquele vazio que sentia estava aos poucos sendo preenchido. Eu não o amava, jamais o amei, mas era um gostar, e um gostar especial ele me fazia bem. No entanto, senti um arrependimento ao perceber que não estava sendo o que ele esperava. Será que seria certo dar um basta naquela situação? Obviamente sim, mas era difícil ter que tomar tal decisão. Cheguei a acreditar que com todo aquele tempo de amargura acabei desaprendendo o que era amar. Quanto mais tempo passava junto com ele, mais sentia nojo de mim, ele não tinha culpa, pelo contrário, era bondoso e carinhoso, mas não seria justo, ele merecia alguém que o amasse e se dedicasse totalmente a ele, mas decidi continuar com ele para tentar amá-lo.
Como em todos os relacionamentos, brigávamos e ele agia como uma criança. Estava cada vez mais difícil aturar sozinha um namoro, sendo que eu não o amava. Mais uma fachada em minha vida.
Nesse meio tempo conheci Eduardo, que por mera coincidência me lembrava Antônio, seu sorriso, o jeito, tudo. Pensei ser um devaneio e fiquei meio nostálgica, mas ao mesmo tempo feliz. Para mim, era um sinal de que meu amigo tinha voltado para mim e acreditei assiduamente nessa hipótese.
 A cada dia que passava e ficávamos cada vez mais amigos, confidentes e companheiros, qualidades que Antônio também tinha. Apesar de não me lembrar tanto de nossas conversas, toda vez que conversava com Eduardo parecia não ser ele, e sim meu irmão conversando comigo e eu me sentia reconfortada. A vontade de conversar com Eduardo crescia cada vez mais e sentia que essa amizade estava me fazendo bem. Estava me distanciando de João, não só fisicamente, mas também sentimentalmente.
Uma tarde, Dudu, como eu gostava de chamá-lo me convidou para passar o dia no sítio de seu avô. Aceitei com um pouco de relutância e me senti estranha naquele dia, algo me dizia que meu sentimento por ele não era só amizade, acho que me apaixonei. Não tinha certeza, devia ser somente a emoção de ter alguém tão parecido com meu irmão comigo, me deixei levar.
Chegamos lá e ele convidativamente me leva até um lago. Sentamos à beira e eu deitei em seu colo, ele me olhava atentamente e eu corei. No mesmo instante levantei-me envergonhada. Ele pigarreou: “Quer dançar comigo?” “Mas não tem música!” “E dái?” Deu de ombros “Venha”. Ele me levantou e nos pusemos a dançar naquele lugar paradisíaco, por um descuido tropecei e caí no lago. Como não sabia nadar ele desesperadamente pulou na água sem ao menos pensar e me salvou. Eu estava quase inconsciente e somente vi seu vulto próximo a minha face. Nossos lábios ficaram próximos, o que se passava por minha cabeça naquele momento era que estava mais do que claro que eu estava perdidamente apaixonada por ele.
Contive-me e respirei fundo, ainda estava namorando e apesar de tudo, não seria justo traí-lo. Para disfarçar o clima estranho que estava entre nós continuamos a conversar ignorando por completo o que por pouco não aconteceu.
Fora o susto, o resto da tarde foi divertida e acalentadora. Rimos, brincamos e voltamos para casa. Ele me pediu para ir até o ponto de ônibus com ele e decidi ir. Não entendi o motivo, mas ele ficou em silêncio o trajeto todo, quando seu ônibus chegou o abrecei e ele entrou, para meu espanto ele virou para trás e pronunciou: “Eu a amo!”. O ônibus partiu e fiquei paralisada sem entender nada, quando percebi estava sorrindo.
Em meio aquela declaração não via mais sentido continuar namorando alguém que não amava. Fui para casa nas nuvens, peguei o telefone e liguei para João, errei com ele e espero me redimir fazendo o que fora certo e melhor para ambos. Terminei todo entre nós, já havia passado da hora de pôr um basta, um ponto final antes que a situação se transformasse em uma bola de neve.
Depois daquela revelação a frase “Eu te amo” circundava por minha mente dias e noites e nós no aproximamos, e pela primeira vez depois de anos sentia o que era realmente estar com alguém cujo eu poderia retribuir tal sentimento.
Estava indo tudo bem às mil maravilhas. Em uma linda tarde ensolarada, fui até a praia e me sentei na areia, contemplando o lindo encontrar da água com o céu, formando um azul sem fim. Aquela leve brisa era reconfortante e me sentia renovada com o cheiro da maré. Meu celular vibrou e ao olhar vi uma mensagem de Dudu que dizia novamente as palavras que faziam meus olhos brilhar: Eu a amo!
As lágrimas se juntaram com a chuva que começou a cair repentinamente, a felicidade me resumia, era impossível haver alguma garota na face da terra mais feliz do que eu.
A partir daquele momento me dediquei e me entreguei ao máximo naquele relacionamento. Ele era um anjo e me fazia sentir algo que nunca ousei sentir antes. Somente ouvir seu nome fazia meu coração palpitar acelerado, borboletas rodeavam meu estômago e quando fechava os olhos o via e revia, o imaginava do meu lado, fazíamos planos juntos e sonhávamos com o esperado dia em que nos uniríamos para todo o sempre.
No entanto, o destino não foi gentil comigo. Ele me contou que teria pouco tempo de vida. Assim que soube, não tive reação, chorava noite e dia, eu já tinha perdido Antônio, perdê-lo iria me fazer entrar em uma depressão sem fim. Mais conformada com tudo isso resolvi passar o máximo de tempo com ele e aproveitar cada minuto, mas ele estava estranho e mais distante de mim. Talvez porque não queria me ver sofrer, não queria que eu me apegasse a ele para não sofrer mais futuramente. Surpreendi-me quando ele resolveu acabar com tudo. Fiquei desolada, mal pude acreditar no que ele me dissera. Mesmo assim, nunca se negou que me amava me deixando ainda mais confusa, afinal, ele tinha pouco tempo, seria justo passar seus últimos dias com aquela cuja era dona de seu coração. Ao menos eu pensava assim, não queria me afastar, tinha uma súbita vontade de cuidá-lo e acalentá-lo, mimá-lo feito uma criança, mas ele se recusou.
A gota d’água foi quando soube da notícia que abalou meu coração. Ele está namorando! Por que motivo ele seria capaz de me deixar, e namorar com uma completa desconhecida, seria tudo mentira as palavras lindas que ele me disse? Será que tudo fora em vão?
Por mais que eu quisesse, não conseguia odiá-lo ele era e sempre será o amor de minha vida.
Resolvi seguir em frente, por mais que ele tenha me feito sofrer, também me proporcionou inúmeros momentos de alegrias. Meu único desejo era que ele fosse feliz e aproveitasse o máximo que pudesse sua vida ao lado daquela que julgo sortuda.
Não havia uma única noite que eu não molhava meu travesseiro de tantas lágrimas, mas a vida não iria parar, afinal, já estava acostumada com decepções e angústias.
Passaram-se anos sem que eu tivesse notícias suas. Não soube se ele realmente havia falecido, esperava que estivesse vivo e feliz.
Estava cursando o último ano de psicologia, sinto-me realizada e bem novamente, porém nunca mais me envolvi com ninguém.
Estava atrasada a caminho da faculdade quando uma senhora baixa de longos vestidos me parou, mas eu esquivei-me e disse: “com licença, estou atrasada” saí correndo em meio a multidão e ela gritou: “Espere um segundo Alana!” Como ela sabia meu nome? Virei-me curiosamente para trás e fui andando lentamente em sua direção. “Desculpe, mas como a senhora sabe meu nome?” “Não importa, tem um segundo? “Pode falar”. “Entre”, ela me encaminhou para uma cabana logo ali e me fez sentar em frente a um monte de cartas e sem mais delongas disse-me: “Ele vai voltar, aguarde!”Senti-me zonza “Ora, ele quem?” Ela deu um sorriso sarcástico e murmurou “Seu anjo...”
Não consegui formular aquela notícia em minha cabeça, estava tão distraída que acabei esbarrando em um moço robusto. “Oh, desculpe-me...” Assim que olhei para trás o vi, era Eduardo e ele estava bem, muito bem! Ele me convidou para tomar uma bebida e esqueci-me completamente de meu compromisso.
Cheguei a pensar ser uma alucinação de minha cabeça e perguntei-me se ele estaria morto e só eu conseguia o enxergar, mas ele estava vivo em carne e osso e me deu uma explicação plausível para aquilo tudo. Disse-me que os medicamentos passaram a fazer efeito e que por um milagre ele se curou. Ambos constrangidos devido ao reencontro acabamos mexendo na ferida do passado, que ardia fortemente em mim mais uma vez.
Resolvemos então por um pedra naquilo tudo e seguir a vida sem mágoas, acabei perguntando se ele havia se casado e para meu espanto ele disse que assim que soube que estava curado me procurou, mas eu mudei de cidade e continuou à minha procura e após muitas tentativas havia se convencido de que jamais me veria novamente. Coincidentemente e graças aquela cigana nos encontramos. Não pude conter o sorriso e me deixei envolver pelo seu abraço assumindo de uma vez por todas o que eu vinha tentando esconder. Sim, eu o amava e o amo até hoje e hei de amá-lo para todo o sempre.


...


-Mamãe, então o anjo que a cigana disse que iria voltar era o papai?
-Não Antônio! O anjo que ela alegou que voltaria era um amigo que tive a muitos anos atrás, e ele renasceu em mim, ele voltou para mim da forma mais pura e singela. Ele tem os olhos verdes e o sorriso mais lindo que já vi... Assim como os seus, e assim que peguei meu anjinho no colo soube a vida finalmente havia me recompensado com duas vidas em uma só.


terça-feira, 18 de junho de 2013

Ainda não acreditei no que fui capaz de fazer. Eu a matei e não tem volta. Com a faca suja de sangue a pus uma linda camisola branca de seda, beijei seus gélidos lábios e me retirei do quarto sorrateiramente.
Fora a única solução que encontrei em meio a tantos erros cometidos de ambas as partes. Não sofri, ela terá o descanso eterno em seu devido lugar, o inferno.
Esperei até que percebessem a bela mulher falecida em sua alcova. Não tardou até notarem e em pouco tempo uma multidão a rodeava tentando entender quem privou da vida uma mulher tão inocente. Mal sabiam o quão esta era esnobe e mau caráter.
A história se inicia em uma noite na mesa de jantar assim que meu pai nos faz a revelação de que iria se casar novamente.
Não respondi uma só palavra. Recusei-me permanecer ali e ouvir tamanha tolice. Seria uma injustiça minha pobre mãe ser substituída já que morrera prematuramente de tuberculose. Jamais aceitaria, entretanto, meu pai deu de ombros para minha opinião e comunicou a mim e a meu irmão mais novo, de apenas 4 anos que dentro de uma semana ela estaria morando conosco.
Nesse meio tempo, passei a frenquentar orgias com mais frenquência e quase nunca estava em casa, chegava só pela manhã. No auge dos meus 17 anos estava aproveitando tudo de bom que a vida tinha a me oferecer.
Certa madrugada, eu e meus amigos embriagados fomos a um bordel e assim que pus os pés naquele lugar imundo vi um anjo que prendeu minha atenção. Ela tinha cabelos negros feito a noite com um baton vermelho sangue e um vestido preto colado a dava um ar de ferocidade exibindo as curvas de seu corpo escultural. Eu, um garoto mirrado e magricela de cabelos espetados e repleto de pircings nunca conseguiria uma mulher como aquela, mas como estava completamente fora de mim não me importei e me aproximei dela.
Eis que ela retribuiu minha aproximação e com pouco tempo de conversa fomos para um lugar mais reservado. Entramos em uma viela escura e sem mais delongas dei-lhe um beijo ardente. As carícias foram aumentando em tamanha intensidade que amei-a ali mesmo, nem sequer cogitei a hipótese de alguém nos ver praticando tal ato. O desejo por ela era maior do que tudo.
Após nos vestirmos fui para casa e o dia estava raiando. Perguntei-me se veria aquela mulher cuja me tirou o fôlego. Sim, a veria e com maior frenquência do que imaginava.
Logo a noite, meu soberbo pai exigiu que conhecêssemos a nova “mamãe”. O susto fora maior assim que vi que minha madrasta era na verdade a mulher que me envolvi sexualmente na noite anterior. Ambos ficamos atônitos.
A cumprimentei formalmente e soube que seu nome era Marion.
Ora, o que uma mulher esplêndida haveria de querer com um velho barrigudo como meu pai? Sua fortuna, o mais provável.
Subi as escadas e tranquei-me no quarto atordoado e rapidamente peguei no sono. No meio da noite levantei para ir ao banheiro e quando voltei deparei-me com aquela mulher atraente na minha cama me esperando.
Não pude resistir, apesar de aparentar ter uns 30 anos seu corpo é fenomenal e todas as noites a partir desta passamos a nos encontrar às escondidas de meu pai.
Passaram-se meses e ela revelou a família que estava grávida. Obviamente o filho era meu, entretanto, fora meu pai quem assumiu acreditando assiduamente que o filho no ventre daquela que se deitava todas as noites comigo era dele. Tolo!
Mandei abortar a criança e assim ela o fez, fazendo todos acreditar que teve um aborto espontâneo. Estávamos nos saindo cada vez melhor na arte de enganar.
Certo dia, após mais uma de nossas aventuras diurnas enquanto meu pai trabalhava, pego no sono e acordo com um barulho estranho. Levantei e segui o som até chegar ao quarto de meu pequeno irmão.
Não acreditei no que meus olhos viam. Marion estava o molestando e pior, o agredindo fisicamente. A porta estava entreaberta e observei a cena com uma fúria quase impossível de conter.
Assim que ela saiu, fui até meu irmão que chorava freneticamente e ao me aproximar notei diversas manchas roxas em seu corpo. Não percebi antes, estava ocupado demais sendo corrompido por aquele monstro disfarçado de anjo, meu pai jamais perceberia, pois nunca prestou atenção no que se passava em sua própria casa.
Decidi que ela pagaria de uma vez por todas, a hora de por um basta naquela situação havia chegado.
Meu plano correu perfeitamente bem já que seu marido estava viajando a negócios. Enquanto ela dormia docemente peguei a faca mais afiada e antes de matá-la deslizei meus dedos por cada milímetro de seu corpo, a despi, observei-a atentamente e ela abriu os olhos com um sorriso malicioso. Antes que pudesse ao menos falar cravei a faca em seu peito e balbuciei:
-Até nunca mais, vadia!
A faca estava repleta de sangue e a lambi para saber se o sangue era tão doce quanto seu beijo. Não era, seria mais provável eu me envenenar do que deliciar-me daquele líquido vermelho.
A fitei atentamente enquanto se lamentava de dor até fechar os olhos lentamente. Ela se foi, mas não a perdi por definitivo. Uma coisa é certa: Nosso reencontro será no inferno.




segunda-feira, 10 de junho de 2013

Solidão...

- E você Sr. Maria Estela do Consolo, aceita o Sr Jorge Silvério como seu legítimo esposo?
O silêncio predominou...
- Não!
No mesmo instante, ergueu o longo vestido branco e saiu aos prantos da igreja deixando para trás um noivo e convidados sem entender aquela cena cômica. Oras, onde já se viu um casamento que a noiva se recusa a fazer um juramento e viver com seu amado até o fim de seus dias?
O fato é que ele não era seu amado. Nunca haveria de ser, o único rapaz que ela ousou amar estaria provavelmente em alguma orgia, sem lembrar de sua existência.
Estela, sempre fora uma doce menina, fissurada em leitura e romances extremamente melosos. Aos 15 anos nunca dera um beijo sequer, pois acreditava assiduamente que o primeiro beijo de amor deveria ser daquele cujo passaria ao seu lado a vida toda, assim como nos livros.
Entretanto, fora contrariada pelos seus instintos amorosos. Havia um beijo escondido em seus lábios, mas mesmo assim era pura e longe de qualquer languidez.
Estevan, um bad boy daqueles que usavam jaquetas de couro era típico dos rapazes galanteadores da época. E este a fisgara de uma forma grotesca e sem escrúpulos. Fisgou seu coração sem ao menos se importar com as consequências de aniquilar um imaturo coração.
Todas as tardes, após a aula ela se dirigia para seu lugar preferido no mundo. Um jardim cercado de flores onde continha um lago e um banco, onde sentava-se para ler.
Em uma tarde ensolarada, ouviu passos que a interrompeu e viu um grupo de garotos eufóricos passando por ela sem notar sua silenciosa presença, obviamente estavam fugindo de alguém.
No dia seguinte, no mesmo lugar como de costume ouve passos novamente. Mas estes eram mansos, um leve caminhar e ao se virar viu a linda face de Estevan fitando-a com suas esmeraldas dilatadas. Corou e então,voltou os olhos para as páginas escritas. Ele pigarreou e sentou-se ao seu lado.
Instintivamente ela afastou-se e eis que este se aproximou novamente observando o livro que ela continha em mãos.
-Nunca a vi pelas redondezas, por onde esta beldade se escondera?
-Me escondo em um mundo que jamais conhecerá, o mundo da leitura.
-Oras, quem lhe garante que não aprecio a literatura?
-Está explicitamente nítido em seus olhos que seu conhecimento está limitado à garotas e orgias.
-As aparências enganam. Nunca julgue um livro pela capa.
- Certamente. Está na hora de eu me retirar, não é apropriado ficar a sós com um garoto.
-Até breve, doce Maria.
Sorriu e sentiu um contentamento ao saber que ele pronunciou seu nome.Olhou-se no espelho e estava corada.
No dia seguinte, ansiou em reencontrá-lo e ao chegar o viu sentado com um livro de capa marrom sobre o colo.
-Gostaria de pedir para que lesse as poesias deste livro para mim.
Ela fez que sim com a cabeça e pôs-se a ler. E assim se sucedeu dias e todas as tardes ambos iam para seu esconderijo para apreciar a presença do outro e enquanto ela lia admirava sua beleza. Não era a mais bela dentre todas pelas quais se interessou, mas, sentia que ela tinha uma essência diferente.
Ansiava em tocá-la, mas seria praticamente um crime encostar com seus grossos dedos uma pele tão delicada, tão aromática que parecia algodão por ser tão singela.
-Ouça, amanhã quero lhe levar a um lugar especial.
-Está bem.
Fora para casa, com uma felicidade que não cabia no peito. Ao se arrumar na tarde seguinte, queria estar bonita e se arrumou da melhor maneira que pôde.
Chegando no local combinado, o viu em cima de sua moto a convidando para sentar-se na garupa. Com um pouco de relutância sentou e o abraçou pela cintura sentindo-se invencível naquele automóvel de duas rodas em alta velocidade.
O vento que batia em seu rosto a mostrava como é bom estar livre feito um pássaro ao planar na imensidão azul. Ao estacionar ela viu uma montanha e ele a deu a mão para que sua donzela não caísse.
Lá do alto a vista era magnífica. Sentaram-se a fim de observar a pacata cidade onde moravam.
-Tenho que lhe confessar algo.
-Diga-me o que é...
-Acho que apaixonei-me por uma linda moça com um laço de fita.
-Pode me dizer o nome desta sortuda?
- Maria Estela.
Só então percebeu que naquela ocasião usava seu laço de fita, que deixava seu cabelo com um volume bonito, e então com toda sua delicadeza foi se aproximando de seu amado e encostou-lhe os lábios vermelhos e atraentemente carnudos.
Após a delicada junção dos lábios, ficaram um certo tempo com o olhar fixo no outro. Aqueles olhos verdes penetrantes a causou um momentâneo arrepio.
-Já é tarde, logo escurecerá! Tenho que ir para minha infelicidade. quisera eu passar horas e horas só a lhe observar meu doce amado.
-Se assim desejas, iremos agora então.
Fazendo o trajeto de volta ele pensou que uma linda moça como aquela não merecia um garoto festeiro cujo único objetivo era a diversão. Não que não gostasse dela, pelo contrário, entretanto sabia que aquela linda jovem merecia alguém que lhe dedicasse a vida e infelizmente não fora feito para viver com apenas uma, por mais que a amasse. Era a realidade e isso o afingira.
Despediram-se e ela se jogou na cama com as mãos nos lábios mal acreditando que encontrou o amor de sua vida e dera nele seu primeiro beijo de amor. Porém passaram-se dias e semanas e nunca mais vira Estevan, todas as tardes ia para o mesmo lugar com a esperança de encontrá-lo mas não o vira. E fora assim durante anos procurando-o sem obter sucesso. E chegou a conclusão que ele jamais voltaria. Jamais...

Chegou em casa e tirou o pesado e apertado vestido de noiva. Não seria justo casar-se sendo que seu coração rondava pelas cidades junto com um lindo rapaz chamado Estevan. Guardou o vestido em um baú e depositou junto com ele todo o amor que poderia oferecer a alguém, jamais se entregaria a nenhum homem que não fosse seu amado Estevan, mesmo que se reencontrem após a morte assim ela o fará. Guardará sua pureza exclusivamente para ele.

domingo, 2 de junho de 2013

Sunrise

Uma das sensações mais bonitas e mais puras que nós podemos presenciar é o nascer do Sol. Acho incrível a forma como tudo vai ganhando vida, e o Sol, com seus raios iniciais ilumina e vai pintando o céu de  um azul celestial, as nuvens ganhando forma, as águas se tornam mais cristalinas, as árvores ganham um verde mais vivo e a brisa da manhã é o sopro de vida que necessitamos para iniciarmos mais uma jornada. O nascer do Sol, representa a simplicidade na beleza e nos mostra que tudo renasce e se renova todos os dias... incansavelmente
Bom dia!