domingo, 4 de agosto de 2013

Dismal Fate, part II

A vida é como um círculo. Não importa quantas vezes se refaça o caminho, se continuar na mesma direção irá voltar de onde saiu.


A era dos Coller havia se encerrado ali, abaixo de sete palmos de terra juntamente com segredos sombrios, mentiras e omissões. A família estava toda reunida em volta do túmulo e vovó Dorah já bem velhinha pronunciou as palavras finais para tudo aquilo que poderia se chamar de massacre tivesse um fim definitivo: “Aqui jaz Maylon Coller, traiçoeiro e perverso que desuniu e desonrou nossa família. O inferno será sua morada eterna”.
Margh observava a cena de longe, aquela confusão tinha ido longe demais. Olhou para seu filho mais novo, o pequeno Harry de apenas quatro anos de idade e sentiu-se aliviada por tê-lo de volta novamente.
Debruçada no volante lembrou-se dos acontecimentos que estontearam sua mente e a agoniou em apenas três dias.
Não se sentiu nem um pouco arrependida por ter ficado tanto tempo longe daquele ninho de cobras, desde aquela noite em que sumiu pelas vielas escuras em Washington ficou vinte anos incomunicável com a família. Mas, se você fugir de um Coller, eles te encontram e acabam com a raça de quem é considerado covarde. E isso é que Margh era uma covarde que fugiu sem mais explicações.
Mudou-se para Nova York e lá conheceu Peterson, o estelionatário e agiota mais rico de todos os EUA. Casou-se e teve três filhos: Janne, Jonah e o pequeno Harry. De todos, Harry era o mais afeiçoado à mãe. Janne, a filha mais velha, com quinze anos saiu de casa para morar com o namorado traficante. Jonah, com apenas doze já era viciado em crack e virava noites nas ruas a procura de farra. Peterson não ligava Margh tampouco, não os culpava sabia que fazia parte do DNA deles seguirem por caminhos obscuros.Mas com Harry era diferente, ela sabia que tinha uma conexão muito grande com ele e que pelos seus lindos olhinhos dava para notar que ele não seria como o resto de sua família.
Todas as tardes, Margh levava o pequeno Harry para brincar no parque e alimentar os peixes, era a única gestação que rendera um bom fruto. O menino encantava a todos e lembrava a infância de Margh antes de conhecer suas raízes.
Em uma tarde qualquer ensolarada, como de costume estava entediada enquanto o filho brincava calorosamente. Odiava programas rotineiros, mas seu pequeno se sentia bem, e bom, gostava de ver seu sorriso.
Olhando rapidamente para a lanchonete do outro lado da rua reconheceu uma feição do passado. Adrian. Era ele! Jamais se esqueceria de suas feições.
Pegou Harry pelo braço e atravessou a rua enquanto o garoto pestanejava que queria brincar mais.
Pigarreou.
-Adrian?
-Oh, Marta!
-Por favor, meu nome é Margh.
-Porque fugiu de mim aquela noite? Nunca lhe esqueci...
-Outra hora explico com mais calma. Como está?
-Ótimo, e você?
-Estou bem! Está aqui a passeio?
-Não, vim a negócios. – Assim que olhou para baixo viu um pequeno garotinho de cabelos enrolados cor de mel e os olhos mais azuis que alguém poderia ter. – Quem é esse garotinho?
-Harry, meu filho.
-Não se parece em nada com você.
“Ainda bem”, pensou, mas não disse.
-Não mesmo.
-Hei garotão, que tal um sorvete?
-Só se você brincar comigo depois – Disse e sorriu sem os dois dentes da frente.
-Mas é claro que eu topo.
Enquanto os dois se divertiam Margh os observava e parecia que se conheciam desde sempre. Em um dia Harry ganhou um pai que nunca teve. Aliás, Peterson nunca estava presente na vida de ninguém era ausente e isso a levava a ter aventuras amorosas por aí, enquanto ele dava duro para ficar cada vez mais milionário. Tinha absoluta certeza de que ele não era o pai de seu caçula, mas o difícil era descobrir qual dentre todos os amigos da família, desconhecidos e pretendentes era o verdadeiro pai.
Enrubesceu ao se imaginar com Adrian novamente e estava deixando seu desejo bem explícito cada vez que ele a olhava. Mas, ele desviava o olhar, parecia evitá-la e ela não entendia muito bem o motivo daquilo.
Adrian ofereceu uma carona para Margh e assim que chegaram em frente ao seu prédio ela mandou Harry subir.
-Quer sair comigo hoje à noite?
-Sou casado.
-Eu também...
-É errado!
-E dai? É só para relembrar os velhos tempos.
-Desculpe, minha mulher está grávida e não tenho intenção alguma de traí-la.
-Eu sou paciente. – Deu-lhe um beijo no pescoço e saiu do carro.
-Margh?
-Já mudou de ideia?
-Não, só queria te pedir se posso passear com Harry amanhã.
-Ah, claro! Até mais. – Deu uma piscadela e entrou enquanto ele a fitava com um olhar de curiosidade.

Na manhã seguinte Harry já havia pulado da cama cedo. Era o período de férias escolares e ele ficou animado ao saber que iria passear com seu novo amigo. Às 15h30 Adrian bateu na porta e em seguida estava com o pequeno no colo em direção a saída do prédio.
Seria mais um dia normal se isso não tivesse acontecido...

Às 22h Margh estava aos prantos na delegacia sem saber explicar como tudo realmente aconteceu. “Harry ainda não chegou em casa” Gritava em vão, os policiais insistiam em lhe dizer que só é caso de seqüestro após 24horas. “Mas ele só tem quatro anos” O tom de sua voz ficava mais agudo. Afirmava que Adrian tinha o seqüestrado, mas não conseguia se lembrar de seu sobrenome além de não haver testemunhas e muito menos provas de que ele realmente tinha cometido o seqüestro. Desde a hora que saíram não voltaram e isso afligia Margh por ter confiado no assassino de seus pais. “Talvez Mike tivesse certo o tempo todo e eu fui uma covarde”.
Como não obteria ajuda nenhuma, resolveu recuperar seu filho com suas próprias mãos.
Pegou seu carro e foi para Washington, onde tudo começou e onde tudo teria um fim a partir daquele momento.
Só a partir daquele momento se deu conta que pela primeira vez na vida amava alguém de verdade. Estava chorando, não conseguia se imaginar sem seu filho, se algo acontecesse com ele ela jamais se perdoaria.
Washington era grande, mas encontraria casa de Adrian nem que ficasse dias e dias vagando. Mas, precisaria de abrigo e o único refúgio era a casa dos Coller, e eles com certeza saberiam que ela está pelas redondezas.
Não sabia como conseguiu dirigir até lá, mas criou coragem e foi até a mata onde residia sua família. Um lugar escondido que parecia mais uma mansão mal assombrada.
Bateu na porta e um jovem a atendeu.
-Mike, é você?
-Não irmã, sou Maylon, não se lembra de mim?
-Caramba, você cresceu, e olhe, você fala!
Riram e se abraçaram.
-Onde está Mike?
-Foi preso por tráfico de drogas.
-E cadê o resto da família?
-Muitos se casaram e moram pelas redondezas. Rony e Neville ainda continuam por aqui, alguns primos também.
-E a vovó?
-Está firme e forte. A família se distanciou um pouco, mas ainda continuamos na ativa!Então, o que a trás até aqui?
-Preciso da ajuda de vocês... Adrian seqüestrou Harry e preciso saber onde ele mora para acabar com a raça daquele patife.
-Quem é Harry?
-Meu filho mais novo, de apenas quatro anos.
-Pode deixar que me informarei sobre onde ele mora.
-Obrigada.
-De nada, ainda bem que reconheceu que já passou da hora de você acabar com ele.
-Verdade... Posso ficar aqui enquanto resolvo essa história?
-Mas é claro, a casa é sua.

Enquanto esperava por uma resposta de Maylon reencontrou o resto da família e percebeu que muitos aparentavam ter medo dele, muitos o evitavam e saíam de seu caminho enquanto ele passava. “Estranho” pensou, mas o jeito dele era de arrepiar a qualquer um mesmo.
-Margh?
-Sim Maylon?
-Consegui. Aqui está o endereço, e ah, ele é casado.
-Estou sabendo... Obrigada, vou agora, não agüento mais ficar nessa agonia.

Pegou o carro e acelerou o máximo que pôde no endereço anotado em um pedaço de papel amassado. Chegando lá, pôde notar que ele era bem de vida e que também tinha herdado a casa de seu pai. Não quis ser delegado e nem assumir a delegacia assim como ele, preferiu seguir o ramo da advocacia.
No papel, não estava somente o endereço de sua casa, mas também o seu escritório e achou mais cabível ir até lá para que ele pudesse ter uma conversinha em particular com seu calibre 38 que infelizmente não o acertou naquele dia.
Passou direto pela secretária e nem se pronunciou, foi logo abrindo a porta e ele se surpreendeu, estava no telefone.
-O que você fez com meu filho?
-O que eu fiz? Deixei na porta de sua casa.
-Não deixou, ele desapareceu e não tenho sinal dele.
-Mas eu deixei. Recebi um telefonema e tive que voltar às pressas. Falaram que minha esposa tinha sofrido um acidente e eu tenho um filho pequeno, desnorteado o deixei na porta de seu prédio e mandei-o subir, pois eu tinha que voltar para casa.
-Mentiroso! Diga aonde você o levou?
-Estou dizendo a verdade.
-Então cadê sua mulher, está no hospital?
-não, está em casa. O estranho é que assim que cheguei em casa percebi que era um trote e que ela estava perfeitamente bem.
-Está vendo? Porque você fez isso comigo? Eu sabia que era para ter te matado naquela noite!
-O quê?
-É isso mesmo que acabou de ouvir. Naquela época me aproximei de você no intuito de te matar. Por vingança. Eu sou uma coller, e você matou meus pais. Meu sonho era conhecer minha mãe e você me privou disso tudo.
-Eu não matei sua mãe, somente seu pai. Estava tentando me proteger, ele estava prestes a atirar em minha irmã que estava dormindo, foi instintivo, atirei para poupar a vida dela. Sua mãe pulou a janela e fugiu.
-Existem provas de que os dois estão mortos, Minha família sabe que eles morreram.
-Errado, naquela época, meu pai queria me proteger, porque se todos soubessem que eu matei alguém iriam me julgar então jogou o corpo de seu pai no lago e como nunca encontraram sua mãe, deduziram que ela também estava morta.
-Eu só quero meu filho de volta. Nada mais importa e eu sei que você é o culpado. Por tudo!
-A escolha foi totalmente sua.
-Como sabe que foi tudo uma questão de escolha?
-Não importa, eu fiquei anos acreditando que você havia me protegido, que gostava de mim.
-Mas eu gostava, sempre gostei, mas agora o que sinto de você é nojo.
Margh estava chorando incessantemente e ele a acalmou.
-Hoje a noite vá a minha casa porque conversaremos sobre isso minha esposa está viajando. Prometo que irei ajudá-la a resolver essa situação.
-Tudo bem...
Saiu do escritório cabisbaixa e pensativa. Não estava convencida por Adrian, sabia exatamente o que fazer naquela noite de quinta-feira.
O que lhe incomodava era o fato de sua mãe estar viva e nunca ninguém ter a encontrado ou sequer sabido dessa alegação. Mas, isso é um outro assunto que agora não tem tanta importância.
Assim que chegou em casa, Maylon estava bastante inquieto e não a dirigiu a palavra. Parecia aflito procurando por algo que perdeu. Quando Neville perguntou o que ele tinha, em um ataque de histeria ele jogou a cadeira contra a parede, desmontando-a por completo.
O clima naquela casa estava bem pesado e a harmonia da família estava afetada. Mas, ela não ligava só queria ter seu filho de volta. Já era noite e saiu de casa sem dar explicações.
Chegou lá, com um plano arquitetado em sua mente. Daquela vez não ia fraquejar. Mas, se o matasse como ia saber onde está seu filho? Parece que alguém respondeu sua pergunta no mesmo tempo em que viu um papel no vidro de seu carro. Uma carta anônima que dizia o seguinte:


      “Margh,
Seu filho está no seleiro, aquele em que se encontrou com Adrian pela primeira vez. Mate-o e chegue a tempo ele tem planos para você e se não matá-lo o prejudicado será seu filho.
                                                           Anônimo.”


Essa era a resposta que precisava. Sem empecilhos poderia enfim terminar o que iniciou.
Tocou a campainha, ele cumprimentou-a cordialmente enquanto ela sorria com seus olhos brilhando. Estava possessa de ódio.
Ele a convidou para sentar-se e ela foi logo se adiantando:
-Não vim aqui tratar sobre a história do meu filho. Eu quero você.
-Mas somos casados...
-Se você disser que não me deseja é mentira, percebo pelo jeito que me olha.
-Mas eu não posso...
-shiu. Se deixe envolver pelo momento. – Ela foi beijando seu pescoço, e subindo até a boca. Ele não conseguiu se conter e beijou-a. No auge da excitação ele a carregou para o quarto e se despiram. “Está chegando sua hora Adian” pensou e assim que ele estava completamente nu vendou seus olhos e ele estava gostando da brincadeira. Enquanto ela beijava as partes mais íntimas de seu corpo ele suplicava para que ela continuasse.
Nesse instante, pegou a faca que trouxe em sua bolsa e passou-a lentamente por seu abdômen.
-Hei o que está fazendo? Está me machucando.
-Essa é a intenção. – E cravou a faca no meio de seu peito e em seguida em várias partes de seu corpo, até que sangue respingava por sua face.
Vestiu-se, e friamente limpou todos os vestígios dele em seu corpo.
Ele ficou um tempo agonizando, mas quando ela estava prestes a sair atirou para certificar-se que não haveria erros. Ele arfou e fechou os olhos para sempre.
Dirigiu em alta velocidade para o seleiro mal acreditando que estaria prestes a encontrar seu filho. Mas, não fora isso que encontrou assim que chegou lá.

-Boa noite irmã, demorou hein! Espero que tenha feito um belo trabalho desta vez. Mike ficaria até orgulhoso se estivesse aqui.  
-Maylon? – Espantou-se ao ver que todos os parentes que moravam na casa estavam sendo feitos de refém. Inclusive Rony e Neville que eram dois grandalhões.
-Cale a boca e vá para lá. – Disse apontando uma arma para ela.
Quando ela estava prestes a sacar sua arma alguém a segurou por trás.
-Cuidado mocinha, não ouse desobedecer à mamãe.
O espanto não fora só de Margh, todos olhavam incrédulos para uma mulher já madura, porém muito bem cuidada.
-Alguém pode me explicar o que está havendo aqui?
-Claro maninha, eu sempre soube que a mamãe não tinha morrido, eu estava com ela no dia do assalto, mas nós ouvimos uma coisa muito interessante que não poderíamos deixar de ouvir o Sr. Shoustter dizer a sua mulher que tinha um tesouro que os Coller não poderiam saber nunca, e que era primordial que
Adan soubesse somente no dia de seu testamento. Minha mãe de longe foi me orientando e desde o dia em que foi embora, passamos a vigiar seus passos, saber de tudo sobre sua vida e então bolamos uma tática infalível para que você matasse Adrian por dois crimes.
Antonnia, sua mãe prosseguiu:
-O que ninguém sabe é que naquela noite o jovem não matou ninguém. Fui eu. Escondi-me e na mesma hora que o garoto ia atirar fui mais rápida do que ele. Não foi difícil te rastrear e saber que você havia se apegado àquele bastardo e armamos para que acreditasse que o tolinho havia seqüestrado seu filho. Mas ele está bem aqui, esse moleque impetulante que não nos respeitou um minuto sequer.
Maylon tomou a palavra, pareciam que tinham passado horas ensaiando o que dizer:
-Eu ia devolver seu filhinho assim que o matasse, pois se Adrian estivesse morto ele não saberia do testamento, e sua irmã deixou bem claro que não quer riqueza nenhuma daquela família. Somente nós sabemos e eu tinha um mapa onde estava tudo escondido. Aí é que está o problema. Roubaram esse mapa e eu vou descobrir quem, seus bichos covardes. Enquanto eu não achar meu tesouro vocês irão apodrecer aqui.
-Seu tesouro?
-Meu, eu que tive todo o trabalho de deixar tudo na perfeita ordem enquanto você só me mandava.
-Não importa, eu quero saber da parte de meu tesouro.
-Hei!
Vovó Dorah deu um grito e todos os olhares se voltaram para ela.
-Deixe-nos ir embora, não temos nada haver com isso. Quem não garante Maylon que sua mãe pegou o mapa de você, afinal nós não sabíamos a respeito desse mapa. Espanta-me você, minha filha que sempre foi tão discreta e respeitosa enganar a todos por ganância. Ele pode muito bem ter escondido de você. São farinhas do mesmo saco mesmo.

Não tardou até que os dois começaram a brigar, mãe e filho por uma mesma causa, mesmos interesses, porém com a ganância falando mais lato.
O conflito foi fazendo todos os parentes se dispersarem. Enlouquecido, Maylon atirou para todos os cantos, deixando primos baleados caídos pelo chão. Margh e Dorah se esconderam e ficaram intactas enquanto assistiam a luta. O seleiro ficou todo destruído, dava para ouvir os tiros de longe e vizinhos preocupados ligaram para a delegacia que já estava a caminho.
Quando ouviu a sirene, Antonnia atirou em seu próprio filho matando-o sem piedade. Só que foi pega em flagrante e presa no mesmo momento prometendo para si mesma que ainda seria dona do tesouro.
Margh procurava por seu filho, mas não o encontrou. Ouviu então um barulho do velho armário se abrindo e eis que viu seu filho saindo sorrateiramente e indo ao seu encontro.
Aquele pesadelo havia terminado e no dia seguinte iria embora. Não queria se lembrar, não queria pensar que tudo foi em vão, que matou um inocente por ganância de sua própria mãe que matou seu cúmplice e filho. Voltou para o ponto de partida, e a pergunta foi: Valeu a pena ter mudado radicalmente por alguém que não se importava com ela? Apesar de sua vida ter sido um erro, aprendeu muitas coisas, inclusive a não se sacrificar ou mudar por ninguém. Mas estava disposta a mudar, por ela mesma, para pôr um fim em sua vida de arrependimentos, afinal, já está feito.
Assim que ouviu sua avó pronunciando as últimas palavras sobre Maylon se perguntou se não era loucura essa história de tesouro e resolveu não ir a frente com esse pensamento.

Entretanto, havia uma pessoa que sabia da existência do mapa e o possuía escondido em seu bolso. Um garotinho muito jovem que encontrará além de um tesouro seu destino. Esse garotinho chama-se: Harry Coller.