domingo, 7 de setembro de 2014

O paraíso

Nem o paraíso criado por Deus, tampouco Pasárgada seriam o suficiente para realizar seu sonho dantesco, motivo de sua talvez glória e total condenação.
Seus devaneios a amarguravam cada vez que pensava naquele beijo, último toque que provara do amor fugaz que nunca pôde viver. Seu olhar era um mesclado de pureza e malícia, dissimulada e sutil, ao mesmo tempo em que o verde musgo cintilante de seus olhos a denunciava.
Para ela, noite para ser dormida era o mesmo que o sol não nascer. Meramente impossível. O tique-taquear do relógio seguia o compasso de sua respiração, enquanto alguém lá fora conversava com o vento.
Pôs a mão direita no vão ao seu lado, e o vazio do espaço solidarizou-se com o do coração. A cama, cujo lado direito não havia ninguém para preenchê-la a fez estremecer. Certamente nunca haverá ninguém ali, e esse ninguém tinha nome, sobrenome e um endereço por ela desconhecido.
E então, ela o viu. Seu sorriso maroto deliciou-a por inteiro. Não o ouvia, e a não ser que estivesse deilirando, podia jurar que viu seus lábios carnudos formarem as palavras "pequena Mary".
Sua respiração ficou lenta, e os olhos se fecharam lentamente. Se morresse naquela noite partiria feliz por ter a imagem dele fresca na memória.
- oh, senti saudades querido E...
O despertador tocou. A noite se fora, e levou consigo seu "querido E...".
E como todas as manhãs fazia, abriu seus olhos de ressaca, penteou os cabelos e perfumou-se. A esperança de revê-lo nunca a deixou, e quem sabe sua tão sonhada Pasárgada se encontrasse em uma esquina, em um bar qualquer, onde seu querido tomava um delicioso café matinal. Porque o paraíso é onde ela é "amiga do rei, e terá o homem que ela quiser, na cama que ela escolher."

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