Nem o tesouro mais precioso pode trazer felicidade a quem o encontra...
-Estefan?! A câmera está aí?!
-Claro, não iria me esquecer. Onde está Roney? Vamos acabar nos
atrasando.
-Lá está, ela precisou imprimir sua história.
Quem diria, dez anos depois os jovens se encontraram e com o objetivo de
realizar tudo o que almejavam desde quando eram adolescentes. Harry, agora
tinha vinte e cinco anos, era casado, arqueólogo e professor de história,
apaixonado pela profissão e pelos dois filhos Mariah e Jonah de apenas três
anos. Roney beirava os vinte e quatro, estava terminando a faculdade de
direito, noiva, escritora nas horas vagas e estava prestes a se mudar para a
França, quando terminasse os estudos e se casasse com Herick. Estefan, vinte e
cinco, solteiro e feliz, preferiu viver ao extremo viajando pelo mundo todo
captando com sua câmera cenas que o mundo inteiro via. Era cineasta.
Após fitarem um ao outro com um sorriso de felicidade souberam que cada
um ali havia conquistado seu objetivo e estavam prestes a realizar mais um.
Juntos.
- Estão prontos?
- Nunca esperei tanto por esse momento vamos em frente.
De braços dados e bem vestidos, o trio adentrou o edifício sofisticado.
Era ali, naquele lugar que decidiriam se suas aventuras seriam ou não
imortalizadas.
...
A voz da aeromoça o interrompeu de seu transe. O
avião estava prestes a decolar e Harry sentiu como se estivesse indo para uma
missão ultra-secreta do outro lado do Estado. Seu destino era a Califórnia,
especificamente High School Valley, cujo qual passaria todo um ano letivo, ou o
tempo necessário para encontrar seu objetivo. Enquanto uma loira bem vestida
explicava aos passageiros como se portar em um avião, tirou de seu bolso o mapa
amassado e amarelado. Da mesma forma que estava quando roubou de seu tio há
anos atrás, ele continuava intacto, porém com desgastes pelo decorrer do tempo.
Nunca soube ao certo sobre o que se tratava o tal
mapa, mas fora este que quase causou a morte de sua mãe e de toda sua família.
Não que jamais soubera das encrencas e mancadas que todos do sobrenome Coller
já cometeram, mas estava decidido a não ser um deles e manter o mínimo contato
possível. Pelo o que parecia sua mãe havia mudado desde o episódio de seu sequestro.
Mas, fora graças a isso que tinha em mãos o que poderia se tornar uma aventura
e tanto e sua curiosidade nunca falou tão alto quanto agora.
Não era por acaso que escolheu a Califórnia para
cursar o ensino médio. Segundo as instruções do mapa era lá que o tal tesouro
se encontrava. Pensar que ele estava sozinho nessa não era nem um pouco
confortável, mas sabia que compartilhar com alguém era inútil, seria taxado de
louco. Mal sabiam que a loucura era seu esporte favorito.
Assim que pôs os pés em solo californiano sentiu um
arrepio percorreu pelo seu corpo, mas respirou fundo e seguiu em frente, pois a
partir dali seria ele e Deus, se é que Deus estava a seu favor.
Como previsto, a escola estava cheia de novatos e
também veteranos e pais rodeando seus filhos dando-lhes conselhos de como se
comportar. O dia estava bonito e ensolarado e a julgar pela brisa, mais tarde
choveria. Harry sempre tivera uma sensibilidade incrível se tratando da
natureza, sentia parte dela como se fosse uma criação exclusivamente sua. O que
mais lhe encantava sem dúvidas era o céu, e ao contrário de muitos, preferia os
dias com neblina, parecia mais um mar de vapor frio, cujo mergulharia sem nem
pensar.
Ao andar distraído pela gramínea do jardim superior
da escola nem percebeu que não estava prestando atenção no caminho e algo chocou-se
contra si, o fazendo cair no chão. Uma garota.
Rapidamente ajudou-a a levantar e desculpou-se pela
distração. No olhar dela havia ternura, mas por detrás de seu negro olhar havia
certa angústia que não sabia como interpretar.
-Oi, Sou Harry, novo na escola. Desculpe-me
novamente.
-Sou Roney. Eu também estava distraída apenas nos
esbarramos.
-Não conheço nada da escola e a única pessoa que
conheço aqui é você. Algum problema se me acompanhar até a entrada?
-Oh, problema algum, estava procurando companhia
também. Acho que já encontrei um amigo.
-Sorte a minha ter alguém para conversar.
-Veja – Disse apontando para o quadro de avisos. –
Somos da mesma sala.
Ele sorriu e agradeceu aos céus por não ficar
isolado em meio a estudantes que pareciam se conhecer a anos.
-Mas, porque você não está com seu grupo de amigas?
-Amigas? Aqui ninguém é amigo de ninguém, apenas
unidas pela futilidade e cá entre nós, odeio garotas assim.
- E o que você gosta?
-Ler, principalmente livros de aventura, bruxaria.
Sinceramente? Gostei de você pelo seu nome. Harry... Sou completamente
apaixonada por Harry Potter, choro todas as vezes que assisto aos filmes ou
leio os livros e não me canso de lê-los. Nunca.
Aventura?! Quase gritou de espanto, mas preferiu
não dizer nada. E veja, mais uma fã de Harry Potter, se daria muito bem com
Roney, pensou e seu jeito tagarela jamais deixaria com que ambos de afastassem.
Apesar de sua aparência um tanto frágil, dava para perceber que era o tipo de
garota autêntica que adorava Rock’n Roll ao invés de ser apaixonada pelas
sensações adolescentes.
-E você?
-Aventura é meu forte, meu sonho é ser arqueólogo e
sair por aí buscando um passado desconhecido, pode parecer loucura, mas é assim
que me imagino daqui a uns anos. Andando pelo mundo em busca de tesouros
enterrados pela humanidade.
- Você irá adorar essa escola, a professora Kelly
nos dará aula de arqueologia e com certeza irá adorar te conhecer.
-E você, o que pensa em fazer, quais são seus
sonhos?
-Não tão aventureiros quanto os seus, antes, eu
sonhava em ser jornalista e delatar histórias incríveis, agora não sei mais se
é esse o futuro que espero. Mas, ainda escrevo e se você quiser posso escrever
sobre você como hobby algum dia quem sabe...
-Será uma honra.
O sinal tocou, e ainda perdido Harry tinha que se
dirigir para o dormitório masculino para guardar seus pertences.
-Vejo você no almoço? – Perguntou esperançosa.
-Claro, vejo você no almoço.
Caminhando em direção ao dormitório, percebeu que
muitas garotas cochichavam enquanto olhavam boquiabertas para ele. Era
impossível negar que nele havia uma beleza diferente, seus cachos pareciam
molas, e seu sorriso era convidativo o bastante para que qualquer uma caísse a
seus pés. Mas não era desse tipo de cafajeste que faz das garotas um brinquedo.
Abriu a porta de seu quarto e logo tratou de cumprimentar seu novo colega de
quarto, que estava de costas.
-Olá, Sou Harry!
-Prazer, sou Estefan. – Disse com a boca cheia e
suja ao redor de chocolate.
Ele estendeu as mãos meladas e Harry apertou-a. O garoto
era engraçado e muito simpático. Ali, repleto de chocolate parecia um bombom
desembrulhado, ou, uma bolhinha de chocolate, com as bochechas fartas e os
cabelos ruivo-alaranjados.
-Preciso de água, muita água! Só um instante Perry.
-É Harry!
-Oh sim, Lary. Só um minuto.
Apesar do que pareceu ser um insulto riu, o garoto
tinha senso de humor afinal. Surpreendeu-se quando o viu virando um galão de
água e ingerindo todo o líquido que estava um pouco menos da metade em um
estalar de dedos.
-Você, é sempre assim?
-assim como? Gordo? É que agora posso comer tudo o
que eu quiser. Antes mamãe escondia de mim, todo o tipo de guloseima deliciosa
e me obrigava a comer... – Fez uma careta – Folhas! Argh.
-Não, eu quis dizer... Autêntico.
-Eu sei que você me acha estranho, mas não ligo
gosto mesmo é de comida, não de pessoas. Mas só porque seus cabelos me lembram macarrão,
vou gostar de você.
-Macarrão? – Não conteve o riso. – Nem sou loiro...
-Mas o macarrão da mamãe é assim dessa cor,
queimado e não é tão ruim assim, melhor do que... Folhas! Argh.
-Toda vez que você fala de verduras ou folhas faz
essa careta?
-Sim, não sou nenhum animal para comer aquilo. Eca.
E ah, bem vindo meu novo colega de quarto, aceita chocolate?
-Não, obrigada. Você é hilário.
-É eu sei que sim.
Depois de bem instalado, Harry e Estefan se
dirigiram para o refeitório. Em uma mesa bem distante estava Roney acenando
para se sentarem a seu lado. Pobre Estefan, mal conseguia carregar sua bandeja,
em seu prato havia uma montanha, mas ele não parecia se importar nem um pouco.
-Oi Roney, esse é meu colega de quarto, Estefan!
Convidei-o para ficar conosco, algum problema?
-Nenhum, bem vindo Estefan, sou Roney e espero que
goste da escola.
-Já estou mais que gostando!
-Então, Estefan, você precisa gostar de histórias
para entrar para nosso clã. Bom, meu foco é delatá-las, o de Harry é
descobri-las. E o seu?
-Vivê-las. Mas de uma forma diferente, vivê-las por
detrás de uma câmera. Sim, quero ser cineasta e sair por aí filmando tudo o que
vejo a fim de guardá-las para sempre.
- Uau! Formamos um trio perfeito. – Disse Harry.
O sinal tocou e todos dirigiram-se para suas respectivas
salas. Por sorte, os três haviam ficado na mesma turma e sentaram próximos,
quando uma loira de olhos azuis destacados pela forte maquiagem, corpo
desenhado e umas partes aqui e ali “concertadas” entrou com um ar de
superioridade.
-Quem é? – Harry sussurrou.
-É a diretora, seu nome é Ketlyn.
Encerrado o pequeno discurso de boas vindas ela
saiu sem ao menos despedir-se da turma. Aparentava ser nova demais para o
cargo, mesmo assim, o que uma mulher bonita não consegue hoje em dia?
Os olhos de Harry e Estefan ficaram confusos no
momento em que a mulher entrou na sala, mas com roupas simples e nada de
maquiagem. Cabelo preso em um coque e óculos. Roney riu.
- Não é a mesma pessoa, essa é a Kelly, sua irmã
gêmea e professora de arqueologia. Ao mesmo tempo em que são idênticas se
diferem em tantos aspectos...
-tocante sua filosofia, mas eu to tentando dormir
Loney, shiu!
-Ora, que abuso, é Ro-ney! Duvido que durma em uma
aula dela Estefan. Mais uma coisa, quem ele pensa que é para fazer: “shiu” Para
mim? – Deu uma jogada de cabelo e fuzilou o garoto com o olhar, ele porém nem
percebeu, havia tornado a abaixar a cabeça.
-Não se preocupe melhor ser chamada de Loney do que
de Perry.
Ambos riram, menos Estefan que se espreguiçava
sonolento.
-Bom dia
classe, meu nome é Kelly Buckmann e sou professora de arqueologia. Hoje irei
falar de um assunto menos abrangente, porém importante. A região de nossa
escola é bem localizada por seus diversos vales e é historicamente
interessantíssima.
Harry parou de ouvir. Apesar de gostar da matéria
estava absorto demais para prestar atenção. O mapa, que nunca saia de seu bolso
parecia queimar, pronto para ser explorado. Ou melhor, para ser desvendado.
Antes que pudesse abaixar a cabeça, ouviu algo que instintivamente fixou seu
olhar na bela professora.
-Existem estudos que dizem que aqui, há um tesouro
que por séculos era protegido pelos índios nativos. O museu de Washington o
procura e faz escavações em nossas terras há anos, porém, nada fora encontrado
até então. Pode parecer uma lenda, mas acredito que este é importante e também
poderoso tanto para nossa cultura, quanto para estudos incríveis. Em nossas
terras jaz um tesouro que se for encontrado, pode mudar a vida de todos ao seu
redor. Talvez.
Tesouro, terras, estudos, lenda, “mudar a vida de
todos ao seu redor” Será que ela estaria se referindo ao seu tesouro? Aquele
cujo mapa estava bem ali, em seu bolso direito? Estava nas pistas certas, mas
passou a aula inteira se perguntando que mudanças seriam essas.
Um trovão o fez pular da cadeira, o que assustou
Roney.
-O que houve? Você ficou tão apreensivo na hora da
aula, pensei que tivesse gostado.
-E gostei, mas estava pensando a respeito de uma
informação que tive.
-Informação?
-Ainda irei explicar para você, mas agora não é o
momento certo.
-Bom, agora é o momento certo para lhe dizer ao meu
respeito. Primeiro, odeio esperar; não gosto que me deixem curiosa. Segundo,
não me venha com historinhas infantis ou coisas sem pé na cabeça porque não
tenho paciência e terceiro, mas, não menos importante: Sou confiável.
-Quarto – Indagou Harry. – você gosta de falar.
Muito.
-Oh, jura?! Nem havia reparado.
Durante as aulas que se seguiram uma forte chuva
atingiu a região e Harry olhava para as gotas que escorriam pelo vidro
imaginando o que fazer a respeito do mapa e em como a informação que acabara de
receber poderia lhe ser útil.
Duas semanas se passaram desde o primeiro dia de
aula e os pesadelos de Harry tornaram-se mais constantes. A essa altura, ele,
Roney e Estefan já estavam bastante amigos e andavam juntos aonde quer que
fossem.
Havia chegado a hora de contar para seus fiéis
companheiros o que o torturava por tanto tempo. Apesar de se conhecerem a pouco
menos de um mês sentia uma confiança enorme em ambos, principalmente em Roney.
-Preciso contar algo muito importante para vocês.
-Sou muito curioso, pode contar.
-Não Estefan, aqui não, tem muitas pessoas que
podem ouvir e isso é de suma importância. Roney vá até nosso quarto após o
toque de recolher, creio que lá seja um lugar seguro.
-Estarei lá.
...
-Já lhe disse que é tudo o que sei Kelly. George me contou que o antigo
delegado de Washington, o Tenente Shoustter há muitos anos atrás quando era
jovem veio para essas terras em uma missão, e aqui ainda habitavam os últimos
índios nativos. Sua missão era expulsá-los das terras para que pudessem
construir ali uma base para poderem tomar suas terras, no entanto, o Sr. Shoustter
defendeu os índios e impediu que sua equipe os expulsasse. Em plena gratidão,
eles o deram um tesouro que ele próprio escondeu por aqui e que este estava
destinado a seu legítimo herdeiro, Adrian Shoustter que morreu precocemente.
Desde então ninguém mais ousou citar o tal tesouro, pois o mapa fora furtado
por um tal de Coller, que morreu há uns anos. O que mais quer saber?
-Ketlyn, eu tenho suspeitas de que esse tesouro não se trata de ouro
algum.
-Ora, seja lá o que for você é a arqueóloga daqui, gata – Ironizou –
Trate de descobrir aonde este tal tesouro se encontra para que eu possa
vendê-lo e ficar rica.
-Não é justo roubar algo que não é nosso e tenho quase certeza que você
vai se decepcionar com o que seja.
-Desde que seja algo que eu possa vender, não vejo problema algum.
-sua ganância me enoja, nem parece minha irmã.
Saiu sem esperar por respostas deixando sua irmã afundada em sua cadeira
confortável se sentindo uma rainha com o ego levantado nas alturas.
...
-Estamos prontos para saber, já é noite e todos se recolheram. Sou muito
ansioso e curioso.
-Acalme-se Estefan, não iremos conseguir nada o pressionando.
-Tudo bem, de qualquer forma contarei para vocês já não suporto mais
guardar isso comigo.
Sem dizer uma palavra, retirou de seu bolso o velho mapa. Pela aparência
atônita de seus amigos com o cenho franzido logo fora se adiantando ao
explicar.
-Este é um mapa de um suposto tesouro. Roubei do meu tio quando era
criança e só sei que ele daria tudo para encontrá-lo se ainda tivesse vivo.
Bom, ele não é meu, minha família guarda muitas histórias, mas isso ainda hei
de explicar com mais clareza. No primeiro dia de aula, quando a professora
Kelly se apresentou disse algo sobre aqui ter um tesouro dos índios nativos.
Não sei se existe alguma ligação, mas meu instinto me diz que sim.
-Caramba, parece até roteiro de filme, só faltou a pipoca e o refri.
Coisa de gente doida.
-Calado, será que você só pensa em comer?! E Harry, eu não gosto de
gente doida e a propósito, você acha mesmo que isso é verdade?
-Sim Roney, veja bem, esse mapa descreve muito bem cada detalhe dos
lugares próximos a este, já o analisei mais de mil vezes.
-E como exatamente nós entramos nessa bagunça?
-Quinta-feira que vem é feriado, e a tarde irei sair em busca, quero
convidá-los a ir comigo, mas se estiverem com medo de serem pegos, tudo bem.
-Dane-se se formos pegos. Eu vou e pronto. Gordinho, ponha toda a comida
que conseguir levar em sua mochila porque vamos em busca de um tesouro. – Roney
esbravejou convicta.
...
-Kelly. Abra essa porta. Rápido!
-Me deixa em paz. Vá
dormir.
-Não, eu ouvi uns garotos falando a respeito desse tesouro que você
tanto quer descobrir. – Olhou para os lados e sussurrou – Eles têm um mapa.
Rapidamente, Kelly abriu a porta e empurrou a irmã para seu quarto.
-O que você ouviu?!
-Ouvi que o garoto roubou esse mapa do tio e que pode ter ligação com o
que você diz, falou sobre índios e quinta de tarde ele e os amigos sairão para
encontrar o local.
-Céus... Devemos castigá-los.
-Castigá-los? Claro que não! Você deve segui-los para saber o caminho e
depois termos em mãos o tesouro.
-Eu jamais irei apoiar uma atitude perigosa como essa. Eles são
adolescentes e é perigoso saírem por aí explorando o desconhecido.
-Eles têm o que você sempre quis, e a propósito, você estará por perto,
nada de ruim acontecerá com eles.
-Ainda não consigo entender como você consegue me manipular.
-Durma bem irmãzinha, seu dia será cheio tentando não sair da cola deles.
...
Era manhã de sábado. Harry levantou-se disposto e ao olhar pela janela
viu Roney sentada no jardim lendo As Crônicas de Nárnia. Sorriu, ela era uma
garota admirável e corajosa e ao ver sua expressão ela parecia participar
assiduamente da história.
-Larry, a professora quer falar com você.
-Bom dia Harry.
Mal teve tempo de se virar e responder devidamente antes que ela pudesse
prosseguir.
-Posso conversar á sós com você um minuto?
-Claro professora.
Arqueou as sobrancelhas e pigarreou, olhando para Estefan.
-Ah é, desculpe professora. Já estou de saída.
Assim que a porta fechou-se atrás dos dois, Kelly apressou-se em
perguntar:
-que mapa é esse que tem sobre seu poder?
-Não tenho mapa nenhum, professora.
-Tem sim, e não foi ninguém que me contou, eu mesma ouvi ontem à noite
enquanto passava pelo corredor.Pode confiar em mim querido, eu quero ajudar e
tenho muito conhecimento a respeito disse se esse for o mapa que estou
pensando.
-Tudo bem, é este mapa aqui.
Ela olhou com os olhos marejados para o papel amarelado e sorriu. “é
exatamente o que eu procurava” Sussurrou.
-Chame seus amigos, vamos conversar a respeito disso e contarei tudo o
que é importante para iniciarmos nossa caçada.
Sorridente, Harry foi à procura de Roney e Estefan para contar-lhes a
novidade.
...
-Já estamos todos aqui, no local
marcado. O que nos impede de sabermos tudo de uma vez professora?!
-Calma Roney, vamos encontrar o lugar onde o tesouro está depositado e
depois conversaremos. Quanto ao que é, sei menos que vocês até.
Os jovens passaram toda a tarde de sábado na sala da professora e ela
lhes contou basicamente o que era preciso para saber em que local deveria estar
localizado e também souberam sobre os índios nativos. Kelly suspeitava de que
era algo místico, já que os índios cultuavam a natureza e principalmente
aqueles da região acreditavam que poderiam fazer mortos voltarem a vida.
Contou-lhes que a muitos anos atrás, o cacique da tribo perdeu seu primogênito
em uma batalha e então muito abalado pediu ajuda aos céus. Eis que, em uma
noite de luar enquanto ele fazia rituais para que obtivesse ajuda a recuperar o
filho viu algo brilhante cair do céu. Quanto o objeto atingiu a superfície
terrestre ouve um estrondo e uma forte luz azul quase o cegou. Quando ele teve
coragem para se aproximar viu uma pedra pequena e bonita, e colocou-a nas mãos
frias de seu filho falecido. Em menos de um minuto ele retornou a vida, mas, em
troca o cacique faleceu e sua alma ficou contida naquela pedra. O jovem
conseguiu o controle da tribo e foi o pior cacique de todos, o que fez o pai
que ainda permanecia “vivo” na pedra arrepender-se por ter dado sua vida a um
filho ingrato e mau. Enquanto Kiáo, o primogênito dormia, tinha pesadelos
atormentadores com seu pai e soube então que era pedra que o fazia mal. Só
teria paz se conseguisse se livrar dela, e foi nessa época que um tenente
corajoso arriscou sua vida para salvar aquela tribo. Como recompensa, Kiáo deu-a
de presente como forma de gratidão e esta fora guardada pelo capitão ali perto
para dar a seu filho como herança.
Tudo se sucedeu bem quando o tenente voltou à sua terra natal. Porém,
uma forte doença atingiu Kiáo e seus membros começaram a se atrofiar um a um
até que em menos de uma semana virou pó. A pedra jamais fora encontrada e
arqueólogos acreditam que o cacique jurou vingança e quem obtiver a pedra será
dominado por ele e morto para que ele volte à vida. A única forma seria
quebrá-la acabando com a maldição que por aqui ronda há anos.
- Nossa! É muita informação para um dia só. – Disse Roney atônita e um
pouco zonza.
- Meninos, pode ser somente uma lenda, nada foi comprovado até hoje.
- Que maldição seria essa professora?!
- Harry, todas as noites de lua cheia é capaz de se escutar da mata
gritos e lamentações, como se alguém estivesse sendo martirizado. A alma do
chefe da tribo tomou conta da floresta e quem se aventura por lá de noite, não
retorna vivo.
- E então essas pessoas que morrem dão a vida a ele?!
- Aí é que está... Estima-se que dez pessoas morreram e seus corpos
foram encontrados sem vida alguma, por isso, acredita-se que somente o herdeiro
dessa pedra conseguiria fazê-la “funcionar”. Entretanto, o herdeiro do tenente
faleceu e, somente alguém da família poderia tê-la em mãos. Seu nome é Pedra
Ressuscitatti
- Minha cabeça está doendo muito, preciso beber água. Algo me diz que
essa história não vai acabar bem.
- Roney, isso pode ser somente uma lenda, mas, é perigoso aventurar-se
por essa floresta. Aconselho vocês a não ir.
- É importante para mim, preciso ir, mesmo que seja sozinho.
- Acho uma tolice completa, mas não perder essa diversão. Você vem
conosco professora?!
- Ora, claro! Preciso proteger vocês, e checar se essa história
realmente é verídica.
Na quinta feira pela tarde o quarteto entrou mata adentro. Passaram por
um belo lago envolto de uma mata densa. Estefan sempre com sua câmera captando
cada imagem. Harry e Kelly estavam animadíssimos, quanto a Roney...
-Aconteceu alguma coisa?!
-Não, só estou com um pressentimento ruim. Muito ruim.
-Você pode até negar, mas eu sei que você esconde uma angústia.
-Não quero falar sobre isso. Pelo menos não nesse momento Harry.
-Tudo bem.
Já estava anoitecendo e o mapa parecia levar a lugar algum. Kelly
sugeriu que eles parassem por ali mesmo e acendessem uma fogueira antes que o
breu total atingisse a floresta. Sentados em círculo, Kelly respirou fundo e
começou a contar tudo o que restava saber sobre o tesouro.
-Como eu já disse anteriormente para vocês, aqui era uma terra de índios
nativos que viviam à séculos por essa floresta. Em meados de 1960 o governo
americano convocou o exército para vir á essas terras e expulsar os antigos
povos que aqui habitavam. Entretanto, houve um soldado que se opôs tenazmente e
impediu que matassem os indígenas.
-Desculpe-me, mas qual era o nome desse soldado?
-Tentente Shoustter e seu único filho e herdeiro era Adrian Shoustter
que morreu precocemente.
-Espere! Você disse Shoustter? Era meu avô e o herdeiro meu pai! E ele
foi cruelmente assassinado por uma Coller. – Disse atônita e já com lágrima nos
olhos.
-Fora exatamente um Coller que roubou esse mapa há muitos anos.
Todos os olhos voltaram-se para Harry.
- Então foi a sua família quem matou meu pai para roubar sua herança?!
Responda Harry?!
-Foi minha mãe quem o matou, mas não foi por isso, ela nem sabia a
respeito desse tesouro e eu nem imaginava que ele era seu pai. Ela o matou
porque meu tio a enganou dizendo a ela que ele havia me raptado. Juro que eu
mal sabia dessa história. Só peguei-o do meu tio.
-Devolva-me agora, isso me pertence. Sua família é uma corja de ladrões
e assassinos podres que devem ir para o inferno.
-Eu não sou igual a eles. – Gritou Harry.
-É sim, está aqui para possuir o que não é seu por direito.
-Se eu soubesse quem era os verdadeiros donos devolveria.
-Ela está aqui na sua frente. Me entregue o mapa.
-e você irá encontrá-lo sozinha?!
-Isso nunca foi um problema seu.
Roney saiu correndo em prantos escuridão adentro. Todos a seguiram, mas
foi em vão, em poucos segundos a garota desnorteada havia desaparecido no breu.
Ela entrou em uma espécie de caverna escura, sem se importar com os
morcegos que a fitavam assustadoramente. Queria somente que seu pai estivesse
vivo, fora por causa da família de Harry que foi privada de receber o carinho
de seu pai e ela não deixaria isso barato. Ainda correndo e arfante, seus pés
se prenderam no que pareceu ser uma tábua que cedeu assim que seu peso
concentrou-se sobre ela. Em poucos segundos, Roney caiu barranco a baixo
perdendo a consciência.
-Roney?! – Gritava inutilmente Harry. – Volte aqui.
-Veja Harry, uma caverna, ela pode ter entrado aqui. – Disse Estefan.
-Boa garoto, agora temos que torcer para que ela não esteja em apuros.
Sua cabeça latejava, e Roney acordou e assustou-se com o que acabara de
ver. Estava em um cemitério muito assustador. Mas, ali estava completamente
escuro, como poderia estar enxergando alguma coisa?! Havia uma pequena luz azul
iluminando todo o local. Roney foi andando em direção à luz e encontrou a
fonte. A luz vinha do que parecia ser um tumulo, mas, este era pequeno demais
para conter ali restos mortais de alguém. Amedrontada removeu a pedra que
impedia a luz irradiar todo o seu brilho e teve que fechar os olhos.
O brilho de uma pedra azul, que mais parecia um cordão com um brilhante
pingente, era tão forte que logo Kelly, Harry e Estefan localizaram Roney que
continuava parada observando o que tinha em mãos.
-Céus, é a Pedra Ressuscitati! Roney, de forma alguma, não a ponha em
seu pescoço, por favor. Você é a herdeira, e poderá fazer o cacique retornar a
vida.
Era tarde demais. Roney, maravilhada gritou: “Isso me pertence!” E a pôs
em seu pescoço.
Nesse instante, seus olhos brilharam mais do que a pedra e ela
contorceu-se até cair.
-Não! – Harry gritou, e correu para socorrê-la.
Assim que chegou perto dela, levou um soco bem em cheio no estômago.
- Irei matar todos vocês! – Gritou uma voz demoníaca que saia da boca de
Roney. Era o cacique, com sede de vingança.
Estefan tentou detê-la, mas levou um chute que fez sua câmera
espatifar-se no chão.
-Rápido, segurem-na por trás! – Ordenou Kelly.
-Roney por favor, nós não temos nada a ver com essa história!
-Eu não sou Roney – Gritava a voz impaciente tentando livrar-se das
pessoas que a seguravam. – Quero matar a todos, quero viver.
-E para isso você quer ver a morte de uma inocente?!
-Calada, sua inútil. Eu morri para salvar a um filho ingrato que fez da
minha tribo um caos. Dane-se as consequências quero retornar ao poder. Adquirir
tudo que é meu.
Ela conseguiu se soltar, e estendeu as mãos em direção à Kelly que fora
lançada bem longe dali. Um grito sucedeu-se a enorme energia que invadiu todo o
lugar, Kelly fora atingida bem em cheio e jazia ali no chão, quase sem vida.
-Não temos muito tempo! Rápido Harry. – Estefan atirou-lhe uma faca e
rapidamente Harry cortou a corda que prendia a pedra ao pescoço de Roney que
desmaiou.
-Por favor, fala comigo, você não
pode morrer. Perdoe-me por minha família ter causado tanta desgraça á sua
família.
Uma voz rouca respondeu:
-Eu que lhe devo desculpas, você não teve culpa de nada.
Só depois que ambos se abraçaram e já estavam de pé puderam perceber que
a vida de Kelly estava se esgotando.
Ele chegou tarde demais... Caída sob a terra vermelha e seca do
cemitério estava Kelly, com a pedra nas mãos e a respiração fraca. Não somente
ela estava perdendo a vida, a linda pedra azul estava ficando sem seu
esplendoroso brilho, cujo cegaria a qualquer um com seu azul místico. Agora não
passava somente de uma cor acinzentada e sem ênfase alguma.
Harry sem mais delongas abaixou-se ao lado da bela mulher cada vez menos
lúcida. “A culpa é toda minha” sussurrou com lágrimas nos olhos, mas, Kelly
colocou a mão trêmula em seus lábios e apenas discordou sorrindo.
Como alguém poderia aceitar a morte tão facilmente? Bom, quando sua
missão é cumprida não há mais o que viver e decerto foi o que Kelly fez,
concluiu sua missão e partirá em paz.
Em um ato impulsivo, Harry tirou cuidadosamente das mãos de Kelly aquilo
que julgou ser motivo de desgraça para ambos, mas antes que pudesse jogá-la
para longe Roney gritou:
-Não faça isso, este é o tesouro de Kelly, ela viveu para encontrá-lo e
tenho certeza que morrerá feliz ao saber que tem em mãos o que ela tanto lutou
para encontrar. Isso jamais me pertenceu.
Novamente, ele relutante a pôs de volta nas pequenas mãos frias. Ela
ainda não estava morta, seu olhar estava longe, muito longe dali. Estava
partindo lentamente e tanto Harry quanto Roney chegaram a conclusão de que
naquele momento ela estava recebendo sua recompensa.
Com olhos marejados todos observavam os resquícios de vida desaparecendo
junto com a linda expressão de Kelly. Antes que pudesse fechar os olhos por uma
eternidade, olhou para os garotos e sorriu gentilmente:
-Obrigada por realizarem meu sonho.
Um sopro levou consigo a alma da arqueóloga corajosa que lutou para
desvendar os mistérios que aquela pedra carregava e finalmente pôde descansar
em paz.
...
A expressão do Sr. Whatson fora indecifrável ao terminar de ler a
história e ver o pequeno vídeo caseiro feito pelos três para apresentar-lhe sua
obra.
- O senhor gostou?
- Se eu gostei? Mas é claro que sim, irei publicá-lo o mais rápido
possível e podem colocar as mãos na massa, o livro de vocês será um sucesso e o
mais vendido de toda a temporada, podem apostar.
O trio comemorou em meio a lágrimas de felicidade. Finalmente sua
história será conhecida por todo o mundo, e, Não somente estariam vivas em seus
corações, mas também na memória daqueles que se permitirem aventurar-se nas
páginas como eles. Afinal, histórias boas precisam ser lidas e jamais
esquecidas.