Há quem diga que os olhos são a porta da alma, nada
escondem, nada disfarçam e dizem o que a boca prefere calar. Antes de tudo,
esclareço uma coisa. Não estou generalizando, afinal, somente um dentre tantos
olhares me encanta, faz-me perder os sentidos, me hipnotiza. Há quanto tempo
mesmo? Três anos.
É. Realmente, uma hipnose que só os melhores
conseguem fazer. Sinceramente, você não é o melhor, tampouco alguém que eu me
orgulharia ao apresentar para meus pais e amigos. Mas, automaticamente você já
se apresentou à minha vida, puxou uma cadeira e sentou-se para ver minha
regressão. Esse olhar desperta o melhor e o pior de mim. Desperta meus
instintos mais ardentes, fumegantes como uma chama, que se fragiliza até apagar
quando uma lágrima corre em meu rosto.
Ameaçador, com um toque de malícia e desejo. Basta!
É o necessário para eu me render, sem ao menos uma palavra ser pronunciada. Já
não é mais preciso um “eu te amo”, na verdade, nunca precisou. Me ter torna-se
tão fácil como respirar.
Seu instinto de caçador fere meu coração, a única
presa que (in)felizmente não é seu alvo mais. Seus olhos de águia esverdeados
já não provocam o mesmo efeito, pois esperança tornou-se apenas uma palavra
cuja cor representativa é verde. Sem mais comparações ao seu olhar. Aqui jaz o
amor, enquanto minha felicidade padece.
Não é posse. Deixou de ser amor. A saudade? Sempre
me acompanha. Então, o que me acorrenta a seu destino, tira meu sono, faz-me
sua prisioneira? Já sei. Seu olhar... Mas, vai além.
Nem em sonhos você imagina que fui predestinada a
saber de seus dias, sentir suas dores, de ver seu semblante indiscretamente
rondando minha mente e dizendo “Ajuda-me!”.
Temo que seja assim para sempre. E que não importa o
quanto eu fuja, seu olhar de águia sempre me alcance a quilômetros de
distância. Temo continuar vidrada, navegando, sem me dar conta de que até mesmo
no raso posso afundar.
Mas, meu maior medo é que essa hipnose sugue meus
dias, minha felicidade, o resto de tempo que mereço por direito. Suplico apenas
que tenha dó de mim, das lágrimas e sorrisos que perdi, do tempo que nunca mais
voltará a correr. Peça socorro, faça sinal de fumaça, estale os dedos, mas por
favor, não olhe para mim.
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